segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Em honra e louvor do meu amigo Jorge Miguel



Texto: Daniel Reis

Há um bom par de anos, estava eu a banhos em Monte Gordo, soube que a equipa de marcha atlética do Clube de Natação de Rio Maior estagiava em Vile Real de Santo António, em preparação para um campeonato qualquer, nalgum sítio deste nosso vasto mundo. Nesse tempo, a primeira figura da equipa era a sobejamente conhecida Susana Feitor. Campeoníssima, diga-se, por cá e lá por fora. E como há muito tempo, muito mesmo, não via o seu treinador Jorge Miguel, lá acordámos um encontro em esplanada vizinha só para pormos a conversa em dia.


Bebido o primeiro café, avancei logo destemido. «Quero que saibas, que eu bem sei quanto o Atletismo te deve e que te considero o verdadeiro pai da marcha em Portugal. E, por isso, é urgente que me digas quando é que fazemos uma entrevista a sério e uma história da tua vida para publicar no Jornal do Fundão, pois já se faz tarde e tu mereces tudo».

Treinador Jorge Miguel
Isto dito, a resposta dele desarmou-me:
«E eu quero que saibas, que o culpado és tu».
Recordou, então, o bom do Jorge Miguel, os dois ou três anos em que convivemos na escola primária de Bogas de Cima, a nossa comum terra natal, ele uns dois anos mais novo que eu e que o seu irmão João, já falecido, e então meu parceiro de turma e de aventuras. Acresce que os nossos pais tinham trabalhado juntos nas Minas da Panasqueira e, juntos também, tinham sido despedidos, porque já não rendiam o que se exigia a um mineiro de pleno, ambos com os pulmões queimados pela silicose, ainda antes do meio século de vida.

«Recordas-te», perguntou ele, »dos jogos de futebol que organizavas e das três curtas pistas que juntos marcávamos no pátio da escola, para corridas de velocidade, ou as voltas inteiras à escola que muitos de nós faziam, a imitar as verdadeiras corridas de meio-fundo? Pois foi aí que tudo nasceu».
Além de atarantado, confessei-lhe que dos jogos de futebol (eu era o guarda-redes, defendia e relatava em simultâneo: ‘defende Carlos Gomes’) me recordava, sim; mas já não me lembravam, quase nada, as tais primitivas pistas, uma ou outra vez experimentadas.

Ouvi, porém, incrédulo e deliciado, a ideia que ele guardava desses tempos e a opinião de que eu era um obstinado na insistência para todos praticarem desporto …e serem do Sporting! E não é que ele seguiu à risca esses conselhos, não falhando nenhum dos dois objetivos, pela vida fora?

Inês Henriques, recordista mundial dos 50Km marcha!
Não me alongo, para saltar já à atualidade deste fim de semana e para me juntar ao coro dos que excelsam agora o meu querido amigo Jorge e a sua pupila Inês Henriques, que ele treina há mais de duas dezenas de anos e que acaba de se sagrar campeã do mundo e com o record mundial dos 50 km marcha. Ainda por cima e pela primeira vez na história dos mundiais, a medalha de ouro atribuída aos atletas foi este ano, também, entregue aos seus treinadores. É obra e é chave de ouro para a carreira de um homem, que se fez por si próprio um mestre exemplar de desportistas e confirmou agora o lugar mais alto do podium, entre os cimaboguenses de eleição.

Bravo, Jorge Miguel, o meu amigo ‘Jorge da Lomba das Vinhas’.

Antes que me esqueça, apelo daqui aos meus amigos do Jornal do Fundão para enviarem, o mais pronto possível uma equipa de reportagem a Rio Maior, para documentarem a preceito no nosso jornal esta emérita figura, que tanto honra os fundanenses.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é muito importante.
Obrigado