quinta-feira, 30 de junho de 2011

Viagem ao Minho

José Teodoro Prata

Estávamos em Maio, nos inícios do mês, pelo tamanho dos rebentos das videiras. Mas comecemos pelo princípio.
O ano lectivo de 1971-72 foi o da grande renovação, no Seminário do Tortosendo. E uma das mais importantes alterações foi a dispensa da “camisa de noite”, que nos escondia as vergonhas, ao mudarmos de roupa, à noite e de manhã. Um dia, ao deitar, o P.e Felgueiras gozou com a nossa falta de coragem, para dispensar aquela garantia de privacidade. O Maurício foi o primeiro e nós rimos nervosos, da nossa vergonha, pois dele, o corpo era igual ao nosso.
E vieram outras mudanças, todas boas. Uma delas foi uma viagem ao Minho, para o nosso 8.º ano. Eu já fora à Figueira da Foz, na Primária, e à barragem de Idanha, no Seminário. Mas esta viagem superava-as: demorava dias e era muito mais longe. Acompanhou-nos o Pe. José Vaz, reitor, o P.e José Prata, o músico e fotógrafo de serviço, e o P.e Felgueiras, como anfitrião.
O almoço foi já em Lamego: papossecos, ovos cozidos e um frango assado para três (frango avantajado, não daqueles quase acabados de nascer que agora se vendem nas churrasqueiras). A barriga ficou cheia, mas deixámos logo metade na escadaria da Nossa Senhora dos Remédios. Ao anoitecer, pelas voltas do Marão, já ia furado com fome. Vendo-me naquele estado, um amigo puxou-me para o seu banco e mostrou-me dois ovos cozidos, em boa hora guardados no bolso, para uma aflição. Um para cada um, um banquete.
Em Amarante, alguém tentou comprar uma garrafa de vinho verde, mas o P.e Prata estragou o negócio. E, muitas centenas de curvas depois, chegámos ao Seminário de Guimarães, já noite cerrada. De manhã, visita ao berço da nação, como os do norte gostam de dizer. Depois, Braga e sobretudo o almoço (lanche?) em casa da mãe do Pe. Felgueiras. Broa, presunto, vinho verde tinto bebido em malgas. Ainda hoje sinto o sabor, aquele aroma, um travo amargo…
Dormimos novamente em Guimarães e, no regresso, passámos pelo Porto. Depois, nova maratona até ao Tortosendo.
Nesta viagem, ainda uma terceira coisa me marcou, além do ovo cozido, no Marão, e do vinho verde, na mãe do P.e Felgueiras: as videiras altas, embarradas em árvores e postes de cimento. Qualquer vereda ou pátio estava coberto por uma latada, a aproveitar no ar o que não se podia produzir no chão. E o verde, tudo verde.

Cheios de fome, antes do banquete.
Da esquerda para a direita: Maurício (Ferro), Mário Martins Antunes (Nave Sabugal), Carlos Marques (S. Vicente da Beira), Carlos Bizarro (Teixoso), Ricardo (Três Povos), Paula (? - Beira Alta), Ramos Silva (Vale de Espinho), Virgílio (Peso), Zé Augusto (S. Vicente da Beira), Vasco (Belmonte), Torres (Fundão), Chico Barroso (S. Vicente da Beira) e Zé Teodoro (S. Vicente da Beira).


Em casa da mãe do Pe. Felgueiras, já reconfortados. Juro que só nos deram uma malga de vinho verde!
Grupo da esquerda: Pe. Vaz, Chico Barroso, Zé Eduardo (Maçaínhas), Zé Teodoro, Torres, Ricardo, Bizarro (Teixoso), Casalta (Aldeia da Ponte) e Carlos Verso (Ferro).
Ao centro: Pe. Felgueiras, com sua mãe, irmão e outros familiares; Maurício, Vicente Proença (Peso) e Manel Augusto (Aldeia da Ponte).
À direita: João Rente (Estreito), Zé Antunes (Maxial do Campo), Pires (Lisboa), Cerejo (Três Povos), Zé António (Rochas de Baixo), Virgílio, Paula e Zé Augusto.
Nas fotos que tenho, não encontro o actual fotógrafo Elísio Gama (Maxial da Ladeira). Não terá participado na viagem ou ainda não gostava de fotografia?
Por exclusão de partes, o fotógrafo é o P.e Prata.

Nota: Agradeço ao Francisco Barroso e ao José Antunes a ajuda na identificação de alguns colegas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Abstive-me...


JOSE DE JESUS AMARO

É isso: abstive-me! Apesar de me sentir incomodado com o modo como as pessoas reagiam, quando lhes dizia que era isso que iria fazer. E foi o que fiz. E não tenho remorsos ou má consciência de qualquer espécie nem me sinto um cidadão menos consciente do que aqueles que votaram, independentemente em quem tenham votado ou se optaram pelo nulo ou branco.
E abstive-me porque não acredito na bondade dos partidos, enquanto organizações capazes de alterar o estado de coisas em que nos encontramos, e muito menos acredito que eles as queiram mudar.
Veio o FMI? Veio! Veio a UE? Veio! Veio o BCE? Veio! E que venham muitos mais ainda. Quantos quiserem vir. A mim não me incomodam nada! Vieram e fizeram o que devia ser feito? Não sei... eu não tenho capacidade para ajuizar! Fizeram bem o seu trabalho? Espero que sim! Vão-nos ajudar? Não acredito! Melhor: darão algo em troca de algo, porque essas instituições não têm como objectivo/função ajudar alguém e muito menos os pobres.
O regime é irreformável? É! Ele diz querer regenerar-se, mas não se reforma, porque a sua essência é mesmo essa: ter poder, conquistar poder, se o não tem, e combater o poder, conforme as circunstâncias!
As injustiças vão continuar, apesar dos discursos crocodilóides, de muitos dos que nunca se interessaram pelos pobres a não ser nas campanhas eleitorais. As reformas chorudas de alguns vão continuar? Mas alguém duvida disso? Os impolutos que recebem várias vão continuar a recebê-las? Pois, claro! As “corporações” profissionais vão continuar a alimentar e a reclamar não só os que têm, mas ainda mais privilégios? Claramente, claro!
Assim sendo, como não acredito abstive-me. E isso resolve alguma coisa? Não! Mas eu também não quero resolver nada. Quem se candidata e promete é que deve resolver! Nem eu quero dizer aos que se candidatam o que devem ou não fazer (moralismo!).
Eu não acredito na democracia representativa? Não! Eu não conheço os que me representam. Nem o que são, nem o que fazem, e muito menos os méritos que têm para me representar... (que não são precisos muitos). Gostava de uma democracia participativa? Gostava! A qual não só cultivasse como potenciasse as diferenças como riqueza e como desafio à harmonia entre desiguais. É claro que ainda não chegou, nem vai chegar tão cedo! Mas ela é o futuro...
O dever cívico de votar? Quem o inventou? Os que antes achavam que o voto era direito só de alguns? Provavelmente, não! Os partidos políticos? Talvez! Até lhes dava jeito...
E, já agora: gosto de ouvir as autoridades (padres e bispos) da igreja católica lembrarem esse dever aos cidadãos (penso que ainda não penalizam o seu não cumprimento com pecado ou excomunhão). Se é tão bom e tão importante porque não o introduzem nas suas práticas? JJ-A