domingo, 17 de abril de 2011

O que se diz a alguém que perdeu um filho?


Algumas palavras e gestos de circunstância... e pouco mais! Quer queiramos quer não perante a morte faltam-nos palavras ou sobram-nos palavras. É difícil encontrar as que queremos, carregadas de sentido e que de algum modo traduzam o que desejamos manifestar a quem perdeu... a fé treme nestes momentos por maior que seja a segurança que queiramos aparentar.
Há os que falam pouco e se recolhem perante a tristeza dos familiares, mas há outros muito eloquentes que falam... falam... querem saber tudo e tudo perguntam: Como foi. Se estava doente. Há quanto tempo. Se era grave. Se era idoso. Se foi logo socorrido... enfim, uma curiosidade de estarrecer...
Daí a minha dificuldade, hoje, em encontrar umas poucas que me ajudem a dizer aos pais e irmão do André algo que vá além das circunstâncias e que tenha algum significado para eles. É que eu nem conhecia o André... só nos conhecemos na despedida, em Alcaria, diante da Senhora dos Prazeres, que ali estava com o seu outro menino.
Sei que não vou conseguir, mas vou tentá-lo e usar o “nosso” SdB para o dizer, já que não tenho “à mão” outra forma de lho fazer chegar. Talvez lá chegue...

O André despediu-se de vós e de nós, os que lá estávamos, numa soalheira tarde de sábado de ramos, olhando a serra que tantas vezes mirou e amou e que todos os dias olha Alcaria com a ternura de uma mãe.
Alcaria: pequena, sóbria, solidária  e solitária viu partir mais um dos seus filhos e por isso ficou ainda mais pequena e mais triste. Disfarçadamente, deixou rolar na face uma lágrima furtiva de dor e saudade. É certo que já viu partir muitos e, como em muitas e muitas aldeias deste Portugal, hoje já vê mais partidas do que chegadas, daí a dor pelo André ser ainda maior. Pois, era alguém mais em idade de chegada do que de partida.
O André era jovem e tinha um enorme carinho por ela, pois além de terra dos seus avós... era também sua, porque aquilo que é dos nossos, nosso é! O André partiu... e vós e nós chorámos como as irmãs e os amigos de Lázaro.
... Sim, que mais há a fazer/dizer em momentos como este? Palavras... palavras (é também o que eu estou a usar) parece que não temos mais nada que nos ajude a aliviar a dor que nos oprime o corpo e nos estrangula a alma... a fé ajuda, a esperança conforta, o abraço alivia? Sim. Mas só o tempo é lenitivo para integrar a perda na vida e ajudar a transformá-la em memória viva e duradoura.
Serena, nobre e nua a serra continuará a olhar, simplesmente... sem palavras, e na sua mudez aparente dirá muito a quem a queira ouvir... como o André a ouviu em vida e, por certo, no sábado, quando se despediu de vós e de nós.

Paz!
ir. josé de jesus amaro, svd

PS. Perdoem-me mas, neste momento, não resisto a lembrar o livro de José Luís Peixoto morreste-me, Temas&Debates. Se lerem, compreenderão... j-a.

1 comentário:

  1. ... essa inevitabilidade que desarma, convoca distancia e, em silêncio, aproxima.

    N.M.

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