domingo, 17 de outubro de 2010

Obrigado Zé

Ricardo Figueira

Obrigado Zé por teres a sã ousadia de partilhar connosco alguns momentos tão pessoais e sensíveis da tua passagem pelo SVD.
Obrigado Zé por nos teres proporcionado um momento “zen”. As tuas palavras catapultaram-nos para a nossa meninice, adolescência e juventude. Entrámos num filme em que passámos a ser actores principais com passagens idênticas às tuas. Relembrámos momentos altos e felizes e momentos baixos, tristes e recatados. Todos eles tiveram uma importância marcante na nossa personalidade actual.
Obrigado Zé por teres evidenciado dimensões tão características da personalidade do Pe. Soares. Também eu tive o privilégio de conviver de forma tão próxima com  Pe. Soares em dois anos em que foi meu prefeito em Fátima. Também destaco a sua energia contagiante, o estímulo e encorajamento de forma responsável ao desenvolvimento da nossa autonomia, o apoio aos menos dotados em actividades que mais favoreciam a integração dos alunos, transformando aspectos menos bons em mais valorizados, a capacidade de decisão pelos princípios de justiça e rectidão independentemente de factores alheios que muitas das vezes desfocalizavam do essencial. Embora por vezes tenha sido incompreendido, creio que passados alguns anos, quando assumimos o papel de pais, compreendemos muitos das suas decisões de coragem, sendo sempre pautadas por objectivos pedagógicos para nos tornar Homens. Obrigado Pe. Soares
Obrigado Zé por lançares o repto de ajudar muitos ex-verbitas “a fazer o reencontro positivo com o passado”, gostei desta bela expressão. Linda e ainda actual ao fim de tantos anos. Quando renunciamos ao nosso passado, renunciamos ao nosso presente. Podemos viver a vida de outros, mas não estamos certamente a viver a nossa própria vida, não nos assumimos de forma integral, assim estamos debilitados das nossas raízes, das nossas energias. Seremos sempre peixes a nadar contra a corrente, que esforço inglório quando apenas bastava pormo-nos a jeito. Ainda que não tenha sido fácil para muitos de nós o percurso pelo SVD, deve ser um suplício maior estar constantemente a renegar social e intimamente esta passagem. Acreditem que mesmo aqueles que evidenciam o “reencontro positivo com o passado” também têm tristezas pelo que a sua passagem pelo SVD provocou. Seja o corte abrupto do convívio dos pais, desencadeando um sentimento de profundo abandono, seja as incompreensões, mal-entendidos, quezílias e até, eventualmente, injustiças percepcionadas pelos actos dos pais, dos padres e prefeitos do SVD e até colegas, tudo isto deixou mágoas. Mas não pode continuar a provocar mazelas, amargura e rancor, que nos afaste do essencial, do reencontro connosco próprios. Mesmo que todos os outros nunca tenham feito nada para reparar esta mágoa, mesmo que o “mundo tenha estado todo contra nós”, ainda assim há algo que apenas depende de nós: perdoar. Este sentimento pode libertar…
Obrigado Zé por partilhares connosco o orgulho de teres passado pelo SVD. Tantos colegas, padres e prefeitos tornados amigos apenas porque passámos pelo SVD. Que tamanha riqueza. Tantos momentos felizes de saudável camaradagem durante e após a nossa passagem apenas porque passámos pelo SVD. Que tamanha sorte. Tantos valores, princípios e acções que nos foram transmitidos apenas porque passámos pelo SVD e que se têm revelado de incalculável utilidade como orientação e rumo nos dias e tempos de maiores agruras. Que tamanhas estrelas iluminadas!
Obrigado Zé por questionares se na nossa vida damos testemunho de fé e mantemo-nos fiéis às nossas origens e vivências. Independentemente de sermos católicos, praticantes ou não, ateus, agnósticos, de outras religiões e até de outras categorias que não encaixam em nenhuma destas, há algo que devemos sempre procurar praticar: a reprodução dos valores, dos princípios e das acções que apreendemos no SVD. Na igreja ou fora dela, na comunidade mais próxima ou mais distante, numa actividade profissional ou até lúdica, temos inúmeras oportunidades de fazer aquilo que consideramos o mais correcto e não o mais fácil. Acredito fortemente que desde as acções mais altruístas de vidas dedicadas à ajuda ao próximo até às mais simples acções de respeito ao outro, mas não menos nobres, estão ao alcance de todos. Não foi este um dos grandes pilares do nosso missionário SVD?
Obrigado Zé por teres colocado os Três Povos no centro da “agenda política” dos ex-verbitas. Terra de grandes produções quantitativas e mesmo qualitativas, como o teu texto tão bem o testemunha.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é muito importante.
Obrigado