quinta-feira, 15 de julho de 2010

REALMENTE FOI BEM EMPREGUE







Óscar Mota

Meu Querido Amigo Padre José Hipólito Jerónimo,





Permita-me que o trate assim, pois decorridos todos estes anos, tenho a certeza que o tenho no coração e que faz parte do rol de pessoas que me são queridas.


É sempre com enorme satisfação que ouvimos as suas palavras, pois, elas são o prenúncio puro e sincero dos mais elementares valores de carinho e amizade de nutre por nós VERBITAS DA SOCIEDADE CIVIL (ex-alunos).

Depois da minha caminhada pelo Seminário, entrei em 05 de Outubro de 1980 (Tortozendo) e sai em 24 de Junho de 1987 (Fátima), hoje, o pouco que sou, mas com firme convicção de realização pessoal, na vertente profissional e familiar, devo-o, em grande parte, à minha passagem pelo Seminário e pelos valores morais, socais e cristãos que ai assimilei.

No entanto, a minha passagem pelo seminário, como todos nós, teve altos e baixos e, a adaptação no primeiro ano não foi nada fácil.   

De facto, quando entrei no Seminário, vindo da Tele-Escola da Barroca do Zêzere, os alicerces trazidos desse arcaico método de ensino deixavam muito a desejar e não foi com grande admiração e espanto que no primeiro período de avaliação fui corrido com negativas a tudo, com excepção do Desporto e Religião / Moral.

Perante este cenário, associado às compreensíveis saudades da família e cantinhos da Barroca, começaram a ocorrer dias de grande sofrimento e choros, que se agravavam aquando pisava a sala de estudo às cinco da tarde. Até lá, as tardes desportivas do futebol de onze e de cinco, provocavam-me um efeito tranquilizador e relaxante com perda de memória momentânea das 9 negativas e do cheiro do pinhal da Barroca.

Ora, numas dessas tardes de estudo, em que brotava mais lágrimas das concavidades dos olhos do que água da nascente do rio Zêzere, dirigi-me - não me lembro com ou sem autorização – ao telefone que se situava nas imediações do escritório do Senhor Reitor, há data, o Padre Jerónimo. Ali, tentei chegar à fala com a minha mãe com o propósito de me virem buscar. No entanto, face aos meus queixumes e lamúrias, o Padre Jerónimo interceptou-me e impediu que consuma-se as minhas mais que decididas pretensões. 

Naquele momento, recordo-me que chamei e apupei-o de tudo o que me vinha à lembradura, acreditem, chamei-lhe mesmo de tudo (acho que até lhe disse que matava a equipa toda do BENFICA). Porém, o Padre Jerónimo, tal e qual um pai para com um filho, teve uma compreensão infinita e com alguma dificuldade, entre algumas palavras afáveis, lá me conseguiu acalmar e encaminhar para o jantar. 

A partir daquele dia, apesar de ter chegado ao 3º e último período com a marca das 9 negativas, as coisas melhoraram e nos anos seguintes começar-me-ia a sentir no seminário como peixe na água, ao qual, a água da piscina também não era alheia ao meu estado de espírito.

Passado este episódio, penso que no ano seguinte, sendo eu chefe de desporto, na composição das equipas, tarefa que me competia, não conseguindo a disponibilidade de ninguém para a baliza, coube-me a mim, quão bónus pater família, a tarefa de guarda redes de uma das equipas. 

Nesse jogo, o Padre Jerónimo, equipado a rigor, com o calção preto e cordão branco, chuteiras pretas com riscas brancas e reviradas na ponta para cima, numa desmarcação feita pelo meu amigo Chefe da Covilhã (Luís Garcia), aparece isolado na baliza norte (esta baliza não tinha rede de fundo uma vez que era encostada ao muro), tendo como único adversário a minha fraca figura de um metro e meio e 40 kilos. Perante jogada iminente, eu, sem luvas, olhei para o Padre Jerónimo, que mais me parecia o RIVELINO brasileiro, e pensei: é hoje que o Padre Jerónimo acerta contas comigo por tudo o que chamei naquele dia do Telefone e me prega aqui à parede. Porém, o Padre Jerónimo, depois de dois assopros, característico dele, deu um enorme pontapé, tendo a bola, para meu alívio, ido parar junto da casa velha, proferindo de seguida o seguinte: “fou fou, mal empregada”.  

Hoje, caro Amigo Padre Jerónimo, relembrando uma homilia sua em Fátima, na qual lhe contei 61 REALMENTE, só me resta dizer que, REALMENTE FOI BEM EMPREGUE o tempo que consigo convivi e espero ainda partilhar.

1 comentário:

  1. Óscar,
    Só te digo... já cá fazias falta!... e com um regresso assim, não pares!!!!
    Um abç
    Vitor Baptista

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