quarta-feira, 24 de março de 2010

O pároco de Alter do Chão já regressou e digo-vos que está fixe e se recomenda

Daniel Reis               

Tenho uma informação a partilhar com os meus confrades deste espaço íntimo de amizade e solidariedade: o José Cortes já regressou (dia 20) à sua paróquia de Alter do Chão, para onde foi destacado há três anos, deixando assim de leccionar filosofia no seminário diocesano de Santarém (cidade situada a 35 quilómetros da sua actual paróquia) e de exercer como prefeito dos poucos alunos verbitas do referido seminário. E posso acrescentar que foi de avião.

De avião?, perguntar-me-ão V. Excias, talvez acrescentando que melhor lhe fora ir a cavalo, pois Alter é o reino por excelência deste belo quadrúpede. E alguns até cofiarão barba e bigode, na dúvida sobre saber se Alter do Chão não fica um pouco mais longe de Santarém, que aquela trintena e tal de quilómetros. A questão é que este Alter fica um pouco mais a Oeste no mapa, lá para os confins do mundo amazónico. E, para chegar àquela Santarém, não se passa pelo apeadeiro de Vila Franca de Xira.

A sede paroquial, com as suas 18 capelas, onde hoje pastoreia almas o padre José Cortes (natural de Janeiro de Cima e antigo companheiro de quem frequentou o Tortosendo em finais dos anos sessenta e nos seguintes em Fátima) é, só, a mais bela praia interior do Brasil.

Situa-se na foz do rio Tapajós, um pouco antes de as águas deste rio se misturarem com as do Amazonas, que vem do Norte, e se transformarem num rio só, o maior do mundo, justamente na orla de Santarém. Só para vos dar uma ideia (além das fotos que enviei para o Vítor ilustrar este texto) digo-vos que é lá que estacionam, para fazer praia, os luxuosos navios americanos de cruzeiro, que regularmente sobem o Amazonas.

A bela praia só funciona a partir de Julho e até Dezembro. Fora isso, a ilhota de areais fica completamente submersa pelas águas do Tapajós. Quando eu e o António Pinto lá estivemos, faz quatro anos em fins de Abril, exactamente pilotados pelo Cortes e o Elísio Gama, os restaurantes e bares da praia eram apenas frequentados por miríades de peixes, entre eles o pirarucu, que chega a atingir uma centena de quilos e do qual comemos umas postas fritas, nas esplanadas sobranceiras ao imenso mar de água, que cobria a praia.

Sabendo que o José Cortes estava cá de férias (fartou-se de dizer missas lá para o Sul do concelho do Fundão, nomeadamente na minha parvónia, Bogas de Cima), os dois ex-visitantes da missão verbita na Amazónia fizeram questão de o rever e agradecer ao seu antigo anfitrião. E garanto-vos que batemos uma bela conversa à mesa, num restaurante finório em Lisboa, para o Cortes não ir dizer de mal de nós aos seus paroquianos e não fazer comparações indevidas entre o peixinho miúdo português e o desmesurado pirarucu amazónico.

A todos quantos têm do Cortes uma imagem de afabilidade, bom humor e belo carácter, só posso dizer-lhes que ele se mantém absolutamente igual. Ou seja, muito fixe. E que se recomenda.

Como alguns sabem, ele já é missionário na Amazónia há duas dúzias de anos e faz questão de se manter, a par do pastoreio das almas, na linha da frente dos combates sociais e ambientais. O que o fez entrar na lista negra de madeireiros, latifundiários do Pará e produtores de soja. Agora, anda envolvido nas manifestações e protestos dos índios Caiapós, contra a construção de uma barragem no rio Xingú, que iria arrasar muitas aldeias e, especialmente, os terrenos sagrados onde vivem os espíritos dos antepassados.

Termino informando-os que o José Cortes convidou a nossa rapaziada a ir visitá-lo a Alter do Chão, quando quiserem. Por acaso, ele é frequentador assíduo deste blog e diz que gosta e está permanentemente a par do que nele se escreve. O problema é que a viagem de ida e volta anda pelos mil dólares. Mas quem puder, já sabe, o e-mail dele, tomem nota, é «svd-jose@gmail.com».

A mim, pessoalmente, fez-me um convite demasiado tentador, mas arriscado. Sabendo que ando às voltas com a preparação de uma sonhada viagem ao Pantanal, ofereceu-se para me levar de jeep até Corumbá, à entrada do dito. Só que são uns 1.500 km, do Amazonas para baixo, por estradas às quais ninguém consegue contar os buracos, quanto mais tapá-los.

É tentador, mas veremos. E até é possível que, daqui por uns tempos, eu venha justamente a este espaço partilhado de amizades, à procura de companheiros de empreitada.

Um abraço do Dani.    

1 comentário:

  1. É pá! G'ánda praia! Assim também eu queria ser padre!

    Tirando isso, quando ouço qualquer coisa relacionado com o Brasil e sobretudo com as lutas sociais, étnicas e culturais com que a região da Amazónia se debate diariamente, fico sempre com o coração nas mãos, porque sei que temos amigos na "mira", por estarem o lado dos mais fracos e, sobretudo, por promoverem a sua dignidade!

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